Esta semana e o mês de outubro começaram de forma especial: no último dia 06, tivemos o Dia Mundial da Paralisia Cerebral e, aderindo um movimento global, organizei, junto com a minha equipe da Clínica Vita, um dia de atividades ao ar livre para os nossos pacientes, seus familiares e seus amigos, além de profissionais da área. Foi um dia lindo, que nos deixou muitas lições e muito sobre o que falar!
Já por aqui, nesta nossa sequência de artigos sobre temas relacionados à Paralisia Cerebral, eu havia prometido explicar, em pelo menos um post, a importância da multidisciplinaridade para a qualidade de vida dos pacientes. E o momento não seria melhor para abordar o assunto do que este, enquanto ainda sentimos os ecos da bela experiência vivenciada no domingo passado.
Necessidades especiais & vida ativa
Agora em 2019, o movimento World Cerebral Palsy Day lançou um desafio mundial pela promoção de vivências inclusivas, visando, por meio de ações concretas, a conscientização sobre a realidade das pessoas com PC. O ponto-chave é chamar atenção para o fato de que essas pessoas têm necessidades especiais sim, mas conviver com um comprometimento neurológico não significa veto à vida social, a atividades recreativas e, muito menos, a estímulos e meios propiciem o desenvolvimento desses pacientes, dentro de suas possibilidades.
Empunhamos essa bandeira desde sempre na Clínica Vita, e vemos os resultados disso diariamente em nossos consultórios, tanto por meio das respostas observadas em nossos pacientes inseridos em programas de Neurorreabilitação, quanto através dos feedbacks oferecidos por pais e demais familiares. Mas realizar um encontro vivencial com essa turma fora de nossas instalações foi algo particularmente gratificante.
E sabe por quê? Porque ELES fizeram a festa! Porque ELES responderam com muita diversão e com muita alegria, como é próprio e natural das crianças! E esse é o grande recado que a data pretendia passar.
Importância dos estímulos
É aqui então que chegamos na importantíssima questão da multidisciplinaridade. Eu digo sempre para os pais dos meus pacientes que um diagnóstico de PC não é por si só uma sentença fechada, mas sim o desafio de oferecer à criança os estímulos especiais de que ela irá precisar para desenvolver o seu potencial específico, da melhor forma possível.
É como subir uma escada: precisamos ir passo a passo, degrau a degrau, observando o histórico clínico, o grau e tipo de comprometimento existente e, à medida que as situações vão se relevando, oferecendo as alternativas terapêuticas capazes de dar o melhor suporte em cada situação.
Por isso, o plano de tratamento é sempre individualizado e é sempre multidisciplinar. Nele, o neurologista atua como “o maestro de uma grande orquestra”. Em cada etapa do tratamento, uma série de especialistas e profissionais de saúde podem ser envolvidos, tais como: fisioterapeutas, fonoaudiólogos, neuropsicólogos, fisiatras, psicopedagogos, nutricionistas, enfermeiros e terapeutas ocupacionais, dentre inúmeros outros.
Entender o que é esse conceito e como um plano de tratamento multidisciplinar deve transcorrer é algo fundamental para que as famílias façam escolhas lúcidas, com grande impacto na evolução de alguém com Paralisia Cerebral.
Neuroplasticidade e intervenções precoces
Quanto mais cedo as terapêuticas são iniciadas, melhor é para o desenvolvimento da criança com Paralisia Cerebral. Pois, por ter uma lesão existente em alguma parte do seu cérebro, essa criança precisa ser mais estimulada e, quanto mais intensa e precoce for essa estimulação, melhores são as respostas.
Em Neurorreabilitação, contamos muito com a neuroplasticidade cerebral. Isto é: com capacidade que o cérebro tem em aprender comandos novos, principalmente nos primeiros anos de vida.
Em geral, quando uma via lesada, outras células se encarregam de substituir a função comprometida. A forma como isso acontece é sempre muito individualizada, mas sabemos que para ocorrer a oferta de estímulos é fundamental.
Por isso, eu digo sempre para os pais não deixarem de sair com os seus filhos, de participarem de atividades de lazer, de permitir que elas interajam com outras crianças, de buscarem as atividades físicas que forem possíveis dentro do quadro clínico da criança e de oferecer estímulos cognitivas e meios para aquisição da maior autonomia possível. Tudo isso, claro, precisa ser feito com suportes e orientações adequados e é justamente aí que um bom trabalho multidisciplinar de equipe faz toda a diferença!