Este ano, ainda protegidos por máscaras e prevenidos com as vacinas, médicos de diversos lugares do globo se reuniram para discutir estudos, descobertas e problemáticas sobre a Doença de Parkinson e Distúrbios do Movimento.
O 4° Congresso Panamericano de Parkinson e Distúrbios do Movimento aconteceu nos dias 26, 27 e 28 de maio, em Miami, nos Estados Unidos da América. Tive a oportunidade de estar presente no evento ao lado da médica neurologista Paula Azevedo, especialista em Parkinson e Distúrbios do Movimento, que tenho muita alegria de ter no corpo clínico da Clínica Vita. Vivenciamos trocas importantes que com certeza serão trazidos para a realidade dos nossos pacientes no Brasil.
Você pode estar se perguntando, mas Dra. Simone, qual a relação entre a Doença de Parkinson e os Distúrbios do Movimento? Distúrbios do Movimento, geralmente, são sintomas que podem ou não ser indicadores de um quadro mais complexo. A Doença de Parkinson, no entanto, é considerada a doença mais prevalente que cursa com Distúrbios do Movimentos, pois causa tremores, lentificação nos movimentos, distonia, rigidez muscular e desequilíbrio.
Durante todo o congresso muito foi falado sobre o tema da Pandemia de COVID19, afinal, foram muitos prejuízos para áreas como saúde mental e doenças neurodegenerativas. Mas também trouxeram esperança de um novo e melhor mundo à frente, principalmente com a descoberta rápida das vacinas.
As vacinas contra a COVID19 também foram um tópico recorrente durante o congresso, reforçando sua eficácia no controle da disseminação do vírus e, consequentemente, no controle da pandemia.
Inclusive, para aqueles que ainda não se vacinaram por qualquer que seja o motivo, procure o Centro de Saúde mais próximo. Se vacinar é sua responsabilidade como cidadão, sobretudo para aqueles que convivem com pacientes crônicos, pois esses são de maior risco para infecção pelo SARs Cov 2.
Agora que já contextualizei o cenário, vamos conversar sobre os tópicos que considerei mais relevantes do congresso?
TikTok Tiques
Parece até trava língua, mas é um quadro neurológico: grande destaque no Congresso Panamericano de Parkinson e Distúrbios do Movimento, foram os chamados Tik Tok Tiques. O quadro é um tipo de tique funcional, causado por estresse e exposição excessiva às redes sociais no período de isolamento imposto pela pandemia do COVID19.
Mais frequente em meninas, os tiques se caracterizam por movimentos repetitivos de olhos, cabeça e ombros, podendo causar também momentos de automutilação e coprolalia – o ato de falar descontroladamente, com palavras desconexas e adicionando xingamentos no meio da frase.
Os TikTok tiques podem ser inicialmente confundidos com a Síndrome de Tourette, que também provoca tiques. Entretanto, existem algumas diferenças nos sintomas e no histórico do jovem que podem indicar a causa dos tiques.
Síndrome de Tourette X TikTok tiques
A Síndrome de Tourette é uma síndrome que cursa com Distúrbios do Movimento que provoca movimentos involuntários como piscar repetidamente os olhos, encolher os ombros ou contrair os músculos da face, imitando caretas. Já os TikTok tiques são uma resposta funcional do corpo ao estresse devido à grande exposição às redes e cursa com tiques mais amplos, mais complexos e nem sempre estereotipados.
A Síndrome de Tourette é mais comum em meninos, e apresenta sintomas iniciais na infância, tendendo a melhorar na fase da adolescência e juventude. Os TikTok tiques surgem principalmente em meninas com ou sem antecedentes psiquiátricos na adolescência.
Não é que o TikTok seja ruim ou um grande vilão da história. As redes sociais não são a causa, mas o seu uso em demasia, sem supervisão, podem ser um fator estressor que cause gatilho para pacientes com ou sem comorbidades psiquiátricas prévias. O tratamento dos tiques advindos da exposição às redes sociais é muito mais desafiador, uma vez que envolve os ganhos secundários inerentes a uma rede social.
Por isso, chamo atenção de pais, professores e cuidadores, para qualquer movimento anormal em crianças e adolescentes. Quanto antes descoberto e diagnosticado, mais efetivo será o tratamento.
Doença de Parkinson e os prejuízos do isolamento social
Além do destaque para o assunto de redes sociais e isolamento, também foi abordado no congresso os prejuízos que a pandemia trouxe, principalmente para pacientes com doenças neurodegenerativas como a Doença de Parkinson. A dificuldade de realizar as terapias necessárias, aumento dos sintomas depressivos e ansiosos e a solidão de pessoas com doenças crônicas nesse período foram amplamente discutidas.
Uma das palestras do último dia de congresso pontuou a importância de retirar os pacientes do isolamento o mais rápido possível. Reconstruir uma rede de apoio, social, e garantir que esses pacientes realmente consigam se relacionar e se comunicar. Estar em sociedade não basta, ele precisa se sentir parte dela, proporcionar um acolhimento e inclusão, tanto de crianças com doenças neurológicas, quanto idosos com Doença de Parkinson e/ou outros quadros.
Avanços em DBS – Estimulação Cerebral Profunda
A Neuromodulação invasiva tem ganhado espaço na neurologia. O que antes era impensável como cirurgias em crianças, tem se tornado cada dia mais frequente. Em algumas doenças genéticas que cursam com Distúrbios do Movimento, a intervenção cirúrgica é a mais eficaz e tratamento de escolha para garantir melhora na qualidade de vida do paciente.
Durante o congresso foi discutido o futuro do DBS – Estimulação Cerebral Profunda. Nos dias de hoje, ele é implantado, e depois, programado pelo médico responsável. É um processo quase manual, que necessita de visitas ao médico.
Hoje já podemos visualizar, em um futuro não tão distante, a existência de um eletrodo que realize a estimulação de forma auto programável, sem tanta interferência médica no processo de programação. Aguardemos as novidades!
Sequelas motoras da COVID19
Outro assunto bastante citado, foram as sequelas neurológicas pós COVID19 ou as síndromes pós-covid, que ainda precisam ser amplamente estudadas. Pessoas sem nenhum diagnóstico prévio apresentaram sintomas pós infecção como cefaleia, acidente vascular cerebral, trombose venosa, impactos cognitivos, sintomas neuropsiquiátricos e alguns Distúrbios do Movimento.
O que precisamos agora é retomar o convívio social, aos poucos, com responsabilidade, e criar novas rotinas de exercício físico, conhecer novas pessoas, viver novas experiências e ir ao encontro com uma nova realidade pós-covid.